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António Chainho & Marta Dias

Concertos Íntimos

21 novembro 2004, 21H30

ANTÓNIO CHAÍNHO tem sido incansável na divulgação da guitarra portuguesa. Há mais de quarenta anos começou a acompanhar os grandes do fado, fazendo a guitarra gemer ao lado de gente como Maria Teresa de Noronha, Lucília do Carmo, Tony de Matos ou Carlos do Carmos. Mas hoje ele é, incontestavelmente, o grande embaixador da guitarra portuguesa, e um artista em nome próprio capaz de lhe oferecer novos mundos. Alentejano de Santiago do Cacém, marcou o início da sua carreira a solo com alguns EP, ainda nos anos sessenta. O seu primeiro álbum a solo, “Guitarra Portuguesa” (1980), já publicado pela Movieplay, apenas deixava antever uma carreira marcada pela composição de temas originais para guitarra portuguesa, destinados a fazer a ponte com outros lugares e outros tempos. Já durante a década de noventa (1996), gravou nos estúdios Abbey Road, em Londres, um álbum em que, enquanto solista, era acompando pela Orquestra Filarmónica de Londres. Um passo maior teria lugar quando foi convidado para participar em “Onda Sonora” (1999), colectânea da série Red Hot em que emparceirava com Filipa Pais e kd lang. Chaínho era o artista com mais participações e o virtuosismo e sensibilidade do seu trabalho com a cantora country norte-americana chamou mesmo a atenção de alguns dos mais prestigiados músicos de Nova Iorque. Bruce Swedien (até aí envolvido na gravação de vários álbuns de Michael Jackson) produziu então um álbum em que a guitarra portuguesa de António Chaínho brilhava ao lado de alguns dos mais requisitados músicos da “downtown” e de cantoras como Teresa Salgueiro, Elba Ramalho, Nina Miranda, Ana Sofia Varela, Filipa Pais e Marta Dias. Em Portugal, o disco conquistou o galardão de ouro (mais de vinte mil cópias vendidas). Lá fora, a guitarra portuguesa ganhava um divulgador sem par com a edição de “A Guitarra e Outras Mulheres” (1998). Próxima estação: Brasil. “Lisboa-Rio” (2000) levava de novo António Chaínho ao encontro de uma antiga paixão. Juntamente com Celso Carvalho gravou um álbum em que as vozes cabiam, desta vez, a cantores brasileiros como Ney Matogrosso ou Virgínia Rodrigues. O reportório, escolhido entre originais e clássicos da música brasileira, revelava, a um mesmo tempo, o brilho do Rio de Janeiro e a genuinidade das vielas de Lisboa. Um disco único, sobretudo pela forma natural, subtil e desenvolta através da qual elementos dispersos foram mais uma vez reunidos. Uma ponte que continuou a revelar-se seminal: Adriana Calcanhotto chamou Chaínho para junto de si durante a última digressão que levou a cabo em Portugal. Maria Bethânia convocou-o para espectáculos no Rio e em São Paulo e e os concertos em Terras de Vera Cruz sucederam-se. Em Portugal, o tenor José Carreras não o dispensou num grande concerto no Pavilhão Atlântico e o passo seguinte só podeia ser o regresso ao Centro Cultural de Belém, onde António Chaínho gravou, no passado mês de Janeiro, um álbum ao vivo. Acompanhado por dois músicos brasileiros radicados em Portugal (Eduardo Miranda e Tuniko Goulart) e pela cantora Marta Dias, que já se tinha distinguido em “Fadinho Simples”, Chaínho ergueu um novo marco na divulgação da guitarra portuguesa.

MARTA DIAS Desde que, em 1993, Marta Dias surgiu em público, a sua voz distinguiu-se logo como uma das mais prometedoras. Mas, mais do que uma voz, ela ocupa um lugar único na música portuguesa ao assumir-se como um ponto estratégico capaz de reinventar a lusofonia. Os convites para cantar em discos de General D (“Pé na Tchon, Karapinha na Céu”, “Kanimambo”) e dos Ithaka (“Flowers and the Color of Paint”, “Stellafly”) demonstraram a sua capacidade para se revelar como uma das mais prodigiosas cantoras portuguesas inspiradas na tradição afro-americana. Jazz, soul e hip-hop foram coordenadas que explorou no início da sua carreira. Não admira por isso que o seu primeiro álbum, “Y-U-É” revelasse toda a naturalidade e espontaneidade com que trilhava os caminhos da grande música negra. Mas não só. A partir de 1997, Marta Dias dispõe-se a cantar com Mestre António Chaínho, o grande embaixador da guitarra portuguesa. Se era do jazz e da soul que a voz de Marta Dias nascia, no fado ela viria a desaguar como uma das mais talentosas intérpretes. Do alinhamento de “A Guitarra e Outras Mulheres”, de António Chaínho, o tema “Fadinho Simples” provou ser o de maior impacto. Ao lado de cantoras como Teresa Salgueiro, Filipa Pais, Ana Sofia Varela, Elba Ramalho ou Nina Miranda, Marta Dias impunha-se como privilegiada intérprete de fado. No seu segundo álbum, “Aqui”, publicado em 1999, ficam então mais explícitas as múltiplas facetas da sua proposta. A escolha do seu reportório passa a incluir fados em íntima convivência com a tradição africana (“Fado Morno”), temas tradicionais inspirados no cancioneiro de Martim Codax (“En o Sagrado en Vigo”), revisões da música pop portuguesa (“Toxicidade” dos GNR, “Sonho” dos Madredeus, “Eu Contigo” de Sérgio Godinho), incursões pela música brasileira (“Ossobô”) ou originais com letra e música da autoria de Marta Dias onde o conceito de lusofonia ganha outra dimensão. Mercê da boa aceitação do disco, enceta uma digressão nacional que se estende a Espanha e ao Brasil, tendo actuado em São Paulo com Ney Matogrosso, interpretando em dueto o clássico da música brasileira “Rosa de Hiroxima”. Na Galiza, a gaiteira Cristina Pato inclui mesmo um dos temas de “Aqui” (“En o Sagrado en Vigo”) no álbum “Xilento”, onde Marta Dias também participa como convidada. Desde 1998, tem vindo a actuar com António Chaínho em digressões nacionais e internacionais, culminando no novo álbum em parceria com o Mestre – a ser publicado em Abril e gravado ao vivo no CCB –, em jeito de síntese destes anos de concertos e viagens. Temas ainda inéditos como “Fado Preto”, “Fado Tão Bom”, “Calha Bem” ou “Encontrei um Fadista” têm letra da sua autoria, revelando uma cantora e letrista capaz de cruzar influências e atravessar fronteiras em busca de uma ligação universal que, afinal, ainda não está perdida.

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