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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA FERNANDO RESENDES

3 junho 2009

A vida tirou-me a primeira fotografia há 44 anos, a 3 de Outubro de 1964. O cenário foi a freguesia de S. Pedro, na cidade de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, Açores.

Comecei a minha retribuição por volta dos dezoito anos de idade. Primeiro curioso, depois fascinado, e ainda apaixonado, sempre cúmplice do que vejo, que me prolonga e complementa. A fotografia ajuda-me a devolver a vida que ganho com o que me circunda, as coisas em que me transformo por contemplá-las. Peço a Camões palavras emprestadas, e recordo “se só no ver puramente me transformei no que vi”.

Procuro sinestesias. O olhar expande-se pelo cheiro das árvores, pelo barulho do mar, pelos outros olhares que se cruzam com o meu e que eu penetro com a minha câmara. Vejo a paisagem selvagem andar ao lado da paisagem moldada pelo homem. Os cheiros, os sons, os sabores, os contornos, os olhares contam-me histórias que reconto, com personagens que não invento mas são minhas. A luz é a tinta da caneta com que escrevo essas histórias, o impulso para criar outras vidas.

O meu cenário natural é um palco privilegiado para mim. Como são outros palcos que, do meu anseio por olhar, procuro viver. O tempo vai-nos marcando os seus caminhos, na roupa das árvores, no corpo das pedras, no rosto das minhas personagens. Algumas doem, outras mimam. A música que as envolve faz dançar o meu olhar, e o que vejo entranha-se na minha pele. Comungamos, eu e as coisas.

Sou marcado por aquilo que marco.

Fernando Resendes  

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